quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Um pouco mais de sacanagem
Mais garrafas vazias
Um pouco menos de politicagem
Menos paisagens frias

Uma porção a menos de monotonia
Quinhentos gramas a mais de desejo
Mil gotas a menos de medo
Mais subtração na enfermaria

Milhões a mais desaparecem
Sete pragas no deserto
Dez por cento os que enriquecem
Vinte quatro horas de um inseto

Um destino afeta mil
Dez mandamentos pra queimar
Vinte balas de fuzil
A vinte inocentes a matar

Um pouco mais de esperança
Mais sepulturas vazias
Um pouco menos de vingança
Mais noites e menos dias

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Pois é...



"É a mesma dança na sala
No Canecão, na TV
E quem não dança não fala
Assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala
As relíquias do Brasil
Doce mulata malvada
Um LP de Sinatra
Maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano
Super poder de paisano
Formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela
Carne seca na janela
Alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade
Hospitaleira amizade
Brutalidade, jardim"
"Geléia Geral", Gilberto Gil.

Artigo bem legal sobre o tropicalismo no Brasil.

http://www.artigonal.com/educacao-artigos/tropicalismo-uma-interpretacao-do-brasil-1083717.html

Cálice (Cale-se)

http://www.youtube.com/watch?v=wV4vAtPn5-Q
OS GRANDES CULPADOS - Juremir Machado da Silva

Como diz o ditado, o pior cego é o que não quer ver para não enxergar. Os grandes culpados pelos nossos males estão bem diante dos nossos olhos. Qualquer um que tenha equilíbrio e não esteja desvirtuado por ideologias ou interesses pessoais é capaz de listar esses culpados sem qualquer margem de erro. É só uma questão de honestidade intelectual e de objetividade. Pegue-se qualquer um destes problemas – caso Daniel Dantas, infrações de trânsito, acidente na construção do metrô de São Paulo, corrupção, financiamento ilegal de partidos no Rio Grande do Sul, adultério –, e o culpado será facilmente identificado.
Quem é o maior culpado pela imagem de decadência moral das nossas elites? As decisões do STF privilegiando os ricos? Claro que não. Isso é puro desconhecimento dos complexos mecanismos da ciência jurídica. O culpado é um só. Aliás, culpadas: as algemas. Basta parar de algemar pessoas de bens e daremos um salto moral. Quem é o culpado pelo uso de organismos públicos para financiar partidos políticos no Rio Grande do Sul? O gravador do vice-governador Paulo Feijó. Ainda bem que as forças vivas (nalguns casos, moribundas) da Nação estão pensando em medidas justificadas e eficazes para punir os culpados: redução de escutas telefônicas, restrição à utilização de algemas, combate à 'indústria da multa', afastamento do delegado Protógenes Queiroz para um imperativo curso de aperfeiçoamento pessoal, que o ensine a não escutar conversas dos assessores e amigos do chefe e, especialmente, eliminar propinas ou incentivos a votações em parcelas mensais. Está liquidada a fatura.
Quem é o grande culpado pela violência no Rio de Janeiro? A Polícia? Os traficantes? Os consumidores de drogas? O crime organizado? Não sejamos simplórios nem maniqueístas. É evidente que são as balas perdidas. Basta ver o estrago que causam matando inocentes. São balas vagabundas sem ética nem treinamento adequado. É por isso que os bandidos já estão se armando para usar mísseis teleguiados. A Polícia, com alguns anos de atraso, também chegará lá. Não entendo como se demorou tanto tempo para tomarem essas providências elementares. Como dizem os policiais, havia antecedentes. Como dizem os juristas, havia jurisprudência. Enfim, em linguagem popular, exemplos domésticos. Afinal, todo mundo sabe que o maior culpado pelos adultérios sempre foi o sofá da sala.

JUVENTUDE EM SEGUNDO PLANO

Nossa cidade precisa urgentemente ocupar a juventude com programas culturais produtivos. Afirmo e mantenho em pé a idéia. A circunstância está simplesmente explícita nas ruas.
A falta de opções aos jovens induz à uma cidadania distante destes de ser exercida. Proponho a reflexão: o que se pode exigir ou esperar de jovens que têm limitadíssimas opções de recreação e lazer? O fato é que em nossa cidade a grande maioria dos jovens passa seu tempo livre sem quaisquer estímulos ou envolvimentos culturais. Não há cinema, teatro, shows de qualidade, exposições, apresentações entre outros eventos que deveriam ser curtamente periódicos e não apenas anuais. Sem mencionar o fato de o museu municipal estar fechado à visitação.
Existe não só a questão do enriquecimento moral e intelectual pessoal, mas também o futuro coletivo da comunidade depende disso. É perceptível pelas ruas, a improdutividade de jovens de diferentes classes, que têm muito potencial e que infelizmente não está sendo devidamente aproveitado. O duro é ter de ouvir de bocas imponentes que isto não vale à pena. Pensamento deveras preocupante. Devemos acima de tudo estimular e acreditar na potência das nossas crianças e adolescentes, que podem sim, gerar frutos positivos para a cidade.
Não há programas efetivos de recreação e incentivo à cultura. A juventude passa a maior parte do tempo perdendo tempo! E também o lazer conta pontos importantes. Faltam festas e shows, cinema, esportes mais diversos e recreação. A cultura italiana é sim importante para manter a tradição e a origem municipal vivas, mas apenas isto, não gera suficiente satisfação e relação do jovem com a nossa sociedade atual.
Os shows e festas de qualidade, não só suprem a necessidade de diversão dos jovens como também são formas de atração de pessoas de outros municípios. Divulgam a cidade, estimulam o comércio e a própria massa pagante a retornar à cidade.
Talvez a contratação de professores para atividades extracurriculares pelas escolas municipais abertas a toda a população seja uma medida muito viável. É certo que antes da cultura, habitação e emprego são os fatores básicos, mas será mesmo que de toda a verba e renda disponível no município, uma parte não poderia ser destinada ao exclusivo usufruto dos jovens?
As crianças e adolescentes precisam mais que instrução escolar, pão e circo. Quanto é investido nesta parte? A juventude em segundo plano? O futuro em segundo plano? E amanhã, quem assumirá o poder? Os nulos culturais ricos em tradicionalismo? É pra se pensar.

DESACATO

Quero lançar no ar meu desacato
O que é imposto ao meu povo calado
O que nos serve a classe dominante?
Eu vou vestir meu terno de pecado

Por que me arranca esse dinheiro sujo?
Por que me fazes bicho alienado?
Por que acomodas o povo sedento?
Oferecendo esgoto abençoado

Qualquer idéia é mera saliência
Na linha rígida da impunidade
Nasce tão puro em tempo sem vergonha
É moribunda qualquer boa vontade

De tanto vale o voto do faminto
Batiza o feto o padre embriagado
Desaba o teto do templo sagrado
A porta fecha ao fim do labirinto

Às oito horas vejo a minha cara
As nove e meia meu destino torto
As onze dorme o Brasil na vala
Pra no outro dia acordar mais morto

DESCONCERTO

Cadê os gritos?
Os teatros estão vazios
Os livros estão tão sós
Os teatros estão vazios

Cadê as faixas?
As avenidas estão caladas
As vozes estão varridas
As avenidas estão caladas

E os desejos?
Os esgotos estão tão cheios
Os corações em falência
Os esgotos estão tão cheios

Cadê a música?
Os ouvidos não são usados
Cadê a justiça?
Os ouvidos não são usados

Cadê a limpeza?
No congresso há leptospirose
Adeus decência
No congresso há leptospirose

Mas e a consciência?
Com a ciência beijando a preguiça
Tele-decadência
Com a ciência beijando a preguiça

Há tanta sede
Mas há um rio dentro de cada besta
Cultura seca
Mas há um rio dentro de cada besta

Que desconforto
Na tua suíte o feijão é doce
Que absurdo
Na tua suíte o feijão é doce

Fique calado
E decepcione a tua própria morte
Morra sem ter vivido
E decepcione a tua própria morte

Durma acordado
E acorde para que o destino mude
Ocupe o espaço
Acorde enquanto ainda há juventude

terça-feira, 12 de janeiro de 2010


TROCA DE PAPÉIS

Há muito inverteram-se os papéis da família e da escola, frente à educação dos alunos. Diariamente presencia-se na sala de aula, uma postura cada vez mais transviada das crianças e adolescentes. Apavorante! Preocupante! Estas palavras resumem o sentimento sobre fatos inaceitáveis no meio educacional.
Já são comuns as notícias de violência contra professores, entre colegas, atos imorais e marginais de alunos. As situações são diversas. Mas o que muitas vezes gera dúvida é: quem está fora de seu papel, a família que não educa, ou a escola que não prepara?
E é aí que entra outra questão: qual o papel da família e qual é o da escola?
Em tempos passados os alunos tinham uma educação moral e social inabalável construída pela família (por esta ser o primeiro agente de socialização), mas com a forma de vida contemporânea capitalista, vem se perdendo os mesmos em meio ao corre-corre e o stress do dia-a-dia.
O papel da escola é formar pessoas, seres críticos, pensantes, cultos e preparados para o mercado de trabalho. É lidar com elementos seguintes à formação básica social e moral. Formação esta, que se deve totalmente aos cuidados da família. Educar, ensinar as crianças a praticar o que realmente são valores morais. Embasados por esse modelo familiar, dirigem-se à escola para uma segunda fase.
Quando os professores ou diretores das escolas necessitam chamar os pais por algum desvio comportamental do aluno, é rotineiro ouvir: “É isso que a escola está ensinando a meu filho?”. Absurdo! Muitos pais pensam que os filhos freqüentando a escola serão automaticamente bem formados, com a parte que eles próprios esqueceram. Pura ignorância.
Na escola antiga, os professores chamavam os pais para resolverem os problemas de comportamento dos filhos, hoje os pais vão à escola para exigir dos professores essa atitude. Como que se estes fossem grandes magos com poderes de moralização instantânea.
O problema nacional parece estar distante de dentro das casas. Muito pelo contrário. A família deve colocar-se em seu lugar e dar uma base sólida à socialização e moralização das crianças. Consequentemente a escola, recebendo estes indivíduos fará sim, seu papel real com muita eficiência e um resultado final compensador.
É assim que teremos uma escola eficiente, potente para soltar ao mundo, pessoas éticas e intelectualmente ativas. Assim, automaticamente se construirão bons profissionais, assim se construirá a paz, assim se construirá um país. Ou talvez seja mais cômoda essa atual negligência e esse vício alienado de se andar em círculos.

PONTA-CABEÇA

A chuva atravessada
Me molha devagar
Com cheiro de chuva desapressada

Se lembra meu amigo
Quando a vida era excitação
Tudo era belo e divertido

A gente saía sem rumo
Andava sem horas pela noite
A gente sentia o mundo

Nossa turma jovem
Elite da malandragem
No topo da pirâmide da desordem

Vamos voltar àquele tempo
Onde não havia preocupações
Daquele bom e velho jeito

Nosso trabalho é tão chato
Nossas caras tão sérias
Será nosso sonho tão barato?

E as segundas-feiras de férias
Assim como as terças e quartas
Nossas felizes insanas idéias

Cara, vamos jogar isso pro alto
Vamos deixar a vida de ponta-cabeça
Saciar hoje nossa sede de asfalto

As aventuras eram felizes
Agora vejo a vida estática
Cultivando velhas cicatrizes

Meus melhores amigos de sempre
Cadê nosso espírito desajuizado?
O nosso “dane-se” tão sagrado

E se déssemos uma chance ao acaso?
Você não se sentiria melhor?
E se déssemos uma chance ao bom do passado?

Parece que estamos envelhecendo
Três meses a cada dia
De tempo em tempo é preciso que esteja chovendo

E eu assim como vocês a não sorrir
Transpiro decepção e tédio
De tempo em tempo é preciso deixar a chuva cair.

A chuva atravessada
Ainda me molha devagar
Com cheiro de chuva desapressada